sábado, 15 de janeiro de 2011

* > (17) Humanismo em Portugal (1434/1527) (17)

Humanismo(1434/1527)

Contexto histórico

Fase de Transição entre Idade Média e Renascimento.
Surgi uma nova classe social a burguesia, cujo nome deriva de burgos ( cidade) – afrouxamento do regime feudal de servidão. Novas formas de relacionamento social e novas leis faziam-se necessárias, já que os hábitos e a rotina dos moradores da cidade opunham-se ao comportamento submisso e humilde do camponês medieval.
O poder - anteriormente privilégio dos nobres – passou a ser exercido por homens que não pertenciam à nobreza mas detinham fortuna – o poder material começa pesar bastante na organização da sociedade, e o status econômico tornou-se mais importante que os títulos da nobreza de sangue ou de origem.
Para o homem medieval, os limites do mundo eram representado pelas fronteiras do feudo. As grandes navegações tiveram origem neste período, o homem passa ter confiança nas suas próprias conquistas e capacidade de dominar a natureza e o desconhecido pelo esforço, a coragem e o saber.
Com isso, o teocentrismo começa a ruir à medida que ganhava força uma concepção de mundo denominada antropocentrismo, em que o homem – e não mais Deus – ocupava o centro do universo.
Esse processo de Humanização da cultura fez que o homem passasse a considerar-se não mais como imagem de Deus, mas como um ser ligado à sua natureza material, física, terrena.
É importante levar em consideração que essa mudança na maneira de conceber o mundo não ocorreu de uma hora pra outra e que a religiosidade não desapareceu. A época que estamos estudando caracteriza-se por ser um período de transição, em que conviveram duas visões de mundo: a teocêntrica e a antropocêntrica.
Registra-se ainda, como fator fundamental na divulgação dessas novas ideias, a invenção da imprensa, por Gutenberg, em 1452, novidade que só chegou em Portugal em 1494, mas a tempo de propagar os estudos dos humanistas realizados no resto da Europa, sobretudo na Itália.

Literatura

Marco inicial – 1434 nomeação de Fernão Lopes para ocupar o cargo de guarda-mor da Torre de Tombo, ou seja, encarregado do arquivo do Estado, o que corresponderia hoje à função de historiógrafo. Fernão Lopes é considerado o primeiro cronista da língua portuguesa, pois inaugurou uma nova maneira de escrever a história de seu país.
Acontecimentos importantes para a literatura desta época: A música se separa da poesia, o que era para ser cantado era música e o que era para ser declamado poesia. A poesia deste período ficou conhecida como Palaciana, pois era declamada somente nos palácio para o deleite da nobreza. Surgi neste momento também o teatro de Gil Vicente, primeiro teatrólogo da língua portuguesa. Foi com Gil Vicente que o teatro português realmente passou a adquirir importância como forma escrita, com estrutura própria.



Gil Vicente (1465?/1537?)

Foi ourives da Corte. Após o êxito alcançado com seu Monólogo do Vaqueiro, passou a escrever e representar peças de teatro para o público constituído, essencialamente, pela nobreza. Das dezenas de peças que escreveu, poucas foram publicadas em vida.
Sua estreia ocorreu em 1502 como o Monólogo do Vaqueiro, feito em homenagem à rainha d. Maria e declamado pelo próprio Gil Vicente nos aposentos desta rainha com finalidiade de divertir essa soberana quando ela deu a luz ao futuro rei de Portugal d. João III. O monólogo baseia-se na cena biblíca em que Cristo, na manjedoura, é adorado pelos reis magos. Foi composto em espanhol, língua corrente entre os nobres de Portugal na época.

A obra de Gil Vicente pode ser didaticamente dividida em dois blocos:

1- Autos- São peças teatrais de assunto predominante religioso, tratado de modo sério ou cômico. Os autos visavam divertir, moralizar o público e difundir a fé cristã. Destacam-se: Auto da Alma, Trilogia das Barcas(compreendendo Auto da barca do Inferno, Auto da barca da Glória e Auto da barca do purgatório) são os mais importantes autos vicentinos.

2- Farsas – São Peças cômicas curtas, de um só ato, poucas personagens e enredo extraído do cotidiano. Têm geralmente caráter cômico. Destacam-se Farsa de Inês Pereira, Farsa do velho da horta e Quem tem farelos?.

Características do teatro de Gil Vicente

Quanto às personagens – não se distinguem como individuos. São tipos que ilustram as classes sociais da época. Raramente são designados por um nome próprio;são identificados quase sempre pela ocupação que exercem ou por algum traço social. Entre esses tipos figuram, por exemplo, o sapateiro, o lavrador, o onzeneiro(agiota), o frade, o bispo, o parvo(idiota,tolo) o escudeiro, a alcoviteira e muitos outros. No conjunto, esses, personagens compõem um painel da sociedade da época.
Quanto à concepção religiosa – Apegado à tradição medieval, Gil Vicente parece lamentar a perda dos valores que considera mais importante de sua época. Mas, ao mesmo tempo, combate por um cristianismo mais humanizado.
Como se faz a crítica social – A crítica social do teatro vicentino é impiedosa. Não escapa qualquer comportamento que o autor julga inadequado como por exemplo o adultério, a falta de sentimento religioso, o materialismo, a vaidade, suntuosidade. Exalta a fé legítima , desprendimento material, a caridade e a simplicidade.
Os efeitos cômicos – Para atingir comicidade, o autor explora principalmente a linguagem das personagens: incorpora trocadilhos, ditos populares, blasfêmias, grosserias, insultos e até obscenidades. Alem disso, em especial nas farsas, a exploração de temas sexuais concorre para a comicidade das peças, principalmente graças à cumplicidade com o público. Critica-se o desejo exacerbado e imprudente; ridiculariza-se de forma impiedosa o “marido traído” e a paixão incauta do velho pela jovem mal saída da adolescência (Auto do velho da Horta). Contribuem ainda para o comicidade os nomes das personagens, reveladores das características psicológicas ou sociais de cada tipo, como João das Bestas, Frei Bolorento, Branca do Rego,etc.





Poesia

Declínio da poesia e ascenção da prosa.
Publicação do Cancioneiro Geral em 1516 por Garcia de RezendeColetânea de 286 autores, que tratam de diversos assuntos em poemas amorosos, satíricos, religiosos, didáticos, moralizantes e heróicos.
A poesia lírico-amorosa do Cancioneiro Geral é bem representativa do caráter de transição do período humanista, ora se faz a exaltação ao amor idealizado, ora do desejo físico; ora se trata da mundanidade mais concreta, ora da mais ardorosa fé religiosa. Quanto à estrutura dos poemas, observa-se uma grande variedade de formas de composição, o que não ocorre no período anterior.

5 comentários: